A COLHEITA DE 2013

4.9.13
Faz três anos em Outubro que nos plantámos no segundo andar esquerdo, num chão de tacos de madeira da cor do trigo, pouco ou nada sementeiro. Vinha eu com duas canadianas de ferro cinzento e uma portuguesa de carne e osso, morena. Decidimos montar o futuro no outono minha rótula partida, a vida tinha três pernas para andar e os meses foram passando pelo estaleiro e pela fisioterapia até que um dia o pé esquerdo foi autorizado a descer à terra, primeiro para umas visitinhas de médico e depois a tempo inteiro. Mudar de casa e aprender a andar: ora aí estão duas cascas de banana que convém transformar em bengalas a toda a bolina.
O novo endereço, marinheiro dos pés à cebeça (Praceta do Comandante Jacques Cousteau), como todos os endereços, não foi sempre um mar de rosas. O vento norte aparece de cabelos em pé quando lhe apetece, por isso nem vale a pena pentear o texto com brilhantina. É desconfiar sempre dos casamentos de risco ao meio, muito arranjadinhos, metades iguais e nem um pêlo discordante. 
E a vida lá foi navegando sem perder o norte, muitas vezes de velas arriadas, como se o mundo inteiro fosse coberto de azulejos azuis, um rectângulo escavado no solo, cheio de água mansa.
Os anos foram passando no lugar certo à hora certa e um dia acertaram os ponteiros com o relógio biológico. Agora a casa tem um pai, uma mãe e um filho.  

    AddThis