Fotografias novas (7)

16.12.13
Por mero acaso Appelbaum levantou os olhos. Estava dentro da sala de jantar de um restaurante italiano na beira-rio de Lipstadt. Encontrou um jogo de futebol perto do tecto. O televisor cantava gooooooolooooo!
Um jogador marcou um golo com o pé e festejou, fez um coração com as mãos. Se tivesse marcado o golo de cabeça teria feito o mesmo gesto? Appelbaum pensa que não, Appelbaum pensa que não, está seguro, a cabeça atrapalha muito o coração porque pensa. Por seu lado, o coração, que não pensa, dá muitas dores de cabeça às pessoas espontâneas. Appelbaum nunca tem dores de cabeça. Coração tem. Usado como novo, mas tem. Amou poucos quilómetros e foi logo trocado por um amor com mais cavalos, arrebatador.
Portanto: o jogador fez um coração com as mãos porque marcou um golo com o pé direito, tivesse marcado com o pé esquerdo, a coisa dava para o torto, o coração ficava como a Torre de Pisa, atractivo por ser estranho.
O amor precisa de um pé direito, pensa Appelbaum, que agora baixa os olhos e examina o sapato, e o bate no chão, como quem procura par de salto alto.
À volta, nem um calcanhar sentado num tacão para consolar as vistas. Appelbaum desligou o radar, a sala de jantar estava cheia de botas da tropa e chuteiras, é engraçado como o calçado dos homens tem nomes de mulher.

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