A máquina

26.3.13
Por estes dias, se perguntarem por mim, sou a agulha do gramofone. E ponho as orelhas do tamanho da corneta, patanho o vinil, ando às volta nos sulcos e ouço. O dicionário diz que pode ser apoplexia, golpe, batida, acesso. E que pode ser lançamento, jogada, ataque súbito de doença e pancada.
Meti um disco na cabeça. The Strokes, Comedown Machine.

Semear dinheiro no asfalto

2.3.13
E vieram os homens, com as suas máquinas de comer terra e abriram pinhais pela barriga, às ordens de outros homens, da zona dos enlatados no supermercado das aparências, senhores doutores, há quem os chame pelo título, o que faz sentido, se mais tarde a responsabilidade dos erros tiver de permanecer anónima. E vieram então os homens, os Tonos, os Quins, os Manéis, enfim vieram os diminutivos todos ou sentados na cadeira das máquinas de comer terra ou então vieram a pé com pequenas línguas nas mãos, as pás, e também comeram.
Ao mando dos homens sem nome, semearam asfalto, concluída a refeição do solo. E de tanto terem trabalhado, um dia havia naquele chão mais estradas do que pessoas e mais pessoas do que automóveis e mais problemas do que os problemas inicialmente previstos. E como o dinheiro tinha fugido por uma dessas ruas para parte incerta, os velhos doutores foram destituídos e novos doutores vieram de uma eleição mais destinada a escolher quem perde do que a definir quem ganha. Passou a ser obrigatório pagar para andar na estrada. A população buzinou, vendeu o carro para poder andar na estrada, mas sem carro não teve como seguir o rasto do dinheiro. E andamos nisto.

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