LER BOGOTÁ

2.1.14
Nas noites de Abril, em 2013, o Hotel Tequendama, num recanto da Carrera 10, encheu os quartos com escritores, editores, livreiros e jornalistas portugueses. À porta, turnos e rondas de militares adolescentes. Ao cabo destes meses todos, seguram-se à memória os seus capacetes brancos, as suas fardas verdes, as botarras pesadas e claro, as metralhadoras, entre a palma da mão e o ombro. Das suas barbas, nada. Nem um pêlo. Não tinham.  Era ainda cedo para haver indícios de bigode ali a um palmo do cano da máquina de fazer mortos. 

Numa dessas manhãs de Abril, a caminho FILBo, Feira Internacional del Libro de Bogotá, um par de outros militares precoces desfilava metralhadoras e caras de mau, salvo erro na Carrera 25. O mais temível, ameaçava quem passava com os olhos, nem se lembrando do chupa-chupa que tinha na boca e que lhe desenhava uma bola na bochecha. Não é que em Bogotá a segurança esteja a dar os primeiros passos, é que ainda não cresceu tudo.

E porque também houve dessas tardes de Abril, numa delas, a meio da Calle 11, a uns trinta metros do Centro Cultural Gabriel García Márquez, faltavam dez minutos para as sete horas, o padeiro estacionou a bicicleta e foi vender pão ao restaurante, o estudante chegou mais perto da biblioteca, os pedintes encostaram o peditório nas costas da igreja, a chuva tinha acabado de ir embora, o pai fechou o guarda-chuva, mas a filha não, e esta nesga de minuto, toda junta, foi eleita a melhor imagem do dia no Instagram da Colômbia.  

Sem comentários:

Enviar um comentário

AddThis