PORTO PARÁGRAFO

13.2.14


Recuperando prosas a propósito da actualidade:

"E do outro lado, o Porto. O bilhete de identidade dos tripeiros como um quadro desenhado na margem, imponente, duro, verdadeiro e velho, uma obra de arte acidental, a cidade mais o seu povo, semeado naquele chão".

"Tantas situações pouco recomendáveis acontecem, graças a Deus, mesmo em frente à Ordem do Terço, na Travessa de Cimo de Vila. Entre elas, quatro cigarros acessos, duas línguas afiadas, quatro gargantas secas. Sai um jarro pintado de tinto. Parte-se um copo no brinde. Cai um quartilho nos paralelos, os pombos descem do telhado, mas logo se apontam outra vez ao céu, porque aquele sangue traz água no bico. "

"Avô e neto treparam cada qual no seu vagar os dois degraus de aço. Em breve o comboio interregional com destino a Aveiro partiria da linha número um da estação de S.bento, pouca terra, pouca terra, movendo-se de estacão em estação, de apeadeiro em apeadeiro. O comboio dá pontos com nó no chão de vila nova de Gaia, avô e neto deixam-se ir naquela máquina de costura , vão falantes, bem dispostos, comboio e carris são linha e agulha dessa cicatriz que se aproxima do mar à medida que o Sul acontece. Em meia hora avô e neto dão à costa no apeadeiro da Aguda. A praia contorna o quartel dos bombeiros e as paredes da capela.
Bem se vê que avô e neto não fazem férias há um tempito. O Jardel, o cão, perdeu-se com certeza nas balizas do tempo.
Vai um cigarrinho para puxar pela memória dos pescadores. Resulta. Dizem que o Jardel morreu para o futebol e que o diabo do canito sentiu o adeus como se fosse gente. Morreu de desgosto num par de meses."


*Extraído do livro Fumadores.

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