PORTO DE ABRIGO

17.2.14
Aqui ficando menos oportunidades temos de chegar a algum lado na vida, mas, aqui ficando, temos a fortuna de ter o que mais ninguém tem e que é o ser de cá.
Dizem por aí ultimamente que somos o norte, mas somos muito mais do que a vontade dos outros e a vontade da bússola. Somos o coração sentado na língua, somos o que não dizem de nós, mas também somos o que dizem, somos toscos, imperfeitos, é verdade que somos o bico da pedra que temos na mão e que nos vai defender. E sim senhor, somos o terror da gramática quando a gramática se põe a olhar para nós de cima para baixo, cerimonial, a contar as autópsias que fazemos às palavras. Não podemos esconder, a não ser que nos cosam os lábios, o tabuísmo do nosso vocabulário, tão cheio de caralhos, mas tão cheio, que há muito deixou de ser pornofonia (se é que alguma vez foi) e é sal, porque para dizer qualquer coisa sem tempero o melhor é manter a mandíbula quieta, dietas de conversa, que não devem ser confundidas com silêncio, para elas teremos um dia muito tempo, quando a eternidade nos puser esticados em caixotes de madeira e aos caixotes a eternidade os puser entre chão e chão. Aí, que se foda, não há mais nada a fazer, mas antes disso não. Antes disso, continuemos a ser isto:

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