AS SITUAÇÕES NOVAS DAS PAIXÕES ANTIGAS

30.4.14

PIXIES "BAGBOY" [DIR. LAMAR+NIK] from LAMAR+NIK on Vimeo.

As situações novas das paixões antigas.
O amor adolescente pelos Pixies desiludiu-se em 1991. Eles não voltaram a escrever uma linha, não voltaram a acordar as guitarras, nem a bateria, o baixo baixou a guarda também.
Passaram 23 anos. No regresso, eles dizem:

"I had a bad reaction to your public hobby writings"

E dizem:

"Polish your speech"

Frase que repetem:

"Polish your speech"

E agora,  neste tempo que já não é o deles, tão longe do lugar onde o amor adolescente ficou apeado, é que se decidem pelo regresso aos discos. Ninguém nasce duas vezes. A não ser o amor.


AMSTERDAM AMSTERDAM

29.4.14
Conseguir chegar a Amesterdão através das memórias e chegar lá em 2003. Esse é o exercício.
Portugal andava pelo mundo (pela parte europeia do mundo) a promover o EURO 2004. Não, não foi assim. Assim se chegou um dia a Londres. A Amesterdão não. Amesterdão foi no ano seguinte, já depois do EURO, mais ainda dentro de 2004, para um estágio do FC Porto, na vizinha e pequena vila de Zeist, onde mora a federação holandesa de futebol, e onde um italiano de meia idade apareceu, com uma meia elástica na perna direita, a mandar na equipa campeã da Europa.
Pois que foram duas semanas entre Zeist e Amesterdão, e os sessenta quilómetros que as separam. Nos intervalos dos treinos, entre muitas outras coisas, havia noites. Noites vazias que fomos enchendo com descobertas. Descobrimos numa dessas horas vagas o Paradiso. O Club Paradiso, uma antiga igreja transformada em casa do rock and roll. Por dentro, o Paradiso é assim:




Por fora, o Paradiso mantém a mesma cara de igreja. Sisuda,conservadora.
Passaram dez anos. Não me lembro de tudo. Mas não me esqueço da pergunta de um polícia numa aurora distante. Queria saber o que fazia eu em cima do tejadilho de um Ford bordeaux. Pediu-me para descer. Desci. Aterrei como pude, assim que deixei as nuvens da última noite em Amesterdão. No aeroporto tínhamos à nossa espera a melhor viagem da história da aviação, num voo da TAP que mais parecia ter acabado de levantar do Paradiso. A igreja ficou no sítio. Espero que ainda lá esteja.



Uma última nota.
Amesterdão entrou-me na ideia por causa do James Vincent McMorrow, que no ano passado foi tocar à minha casa holandesa músicas de partir o coração com a voz. Este Higher Love explica como é.
 


TRÊS DIAS EM MARRAQUEXE

26.4.14


Terça-feira, 11 de Outubro de 2011
A Yamaha Mate, motorizada japonesa de 1978, com 50cc, vai passar aqui muitas vezes, tem um quadro que pode ser azul, cinzento ou verde (meu favorito), e tem um avental branco sujo, e apesar de estar a dar a informação de que ela há-de passar por aqui muitas vezes, hoje e nos próximos dois dias, não saio da daqui sem contar a vez em que a primeira, com o quadro azul, trazia sentado no banco de trás o Pauleta, com a camisola de Portugal do mundial de futebol da Alemanha em 2006, com o número nove nas costas. O Pauleta saltou para o interior de uma barbearia no instante em que a moto com quadro azul parou entre as tendas de comida e os toldos verdes da praça Jemaa El-Fnaa.
Nesta noite de terça-feira, entre o vapor dos preparados para comer, o cheiro da carne de porco, do açafrão, do caril, (e na penumbra do lugar) dois polícias conseguiram ter olhos e nariz para enxotar um engraxador de sapatos. O engraxador teve nariz e olhos para pressentir os polícias no mesmo ambiente e fugiu com a caixa e escova na mesma mão, vestia uma camisola preta com riscas finas amarelas nas mangas, tinha o emblema da real federação espanhola de futebol na clavícula direita, tinha o número um na barriga e o nome Casillas no peito. Ia com a camisola ao contrário e fugia com os olhos na nuca.
Nesta noite de terça-feira passou sem dizer nada o David Villa, com a camisola nova, a preta, do Barcelona, com o número sete. Passou despercebido, sem gel no cabelo e pareceu-me mais baixo. Cruzou-se com uma camisola principal do Barcelona 2010-11, número oito, passou por Iniesta que não estava a ficar careca e que era moreno. Cruzaram-se como se não soubesse um quem era o outro. Sentado na escuridão do chão, com a camisola azul e branca da argentina, o Gabriel Heinze vendia souvenirs e guardanapos.

Quarta-feira, 12 de Outubro de 2011
Não conseguiu passar despercebido entre dois raios de sol num souk, esta manhã: um Didier Drogba branco, camisola do Chelsea, azul, número onze, de braço dado com a mãe, uma senhora vestida com panos rosa, um lenço na cabeça e um chapéu branco em cima do lenço, que era rosa.
Não conseguiu passar despercebido, sentado ao guiador de uma MBK Variateur Swing, a pedais, o Bastian Scheweinsteiger, na camisola vermelha do Bayern de Munique. Nem ele olhou para o Cristiano Ronaldo, com o número nove e a camisola preta do primeiro em Madrid, encostado à porta de loja, a vender sapatos em pele e marcadores para livros, nem o Cristiano Ronaldo olhou para ele.
Nesta quarta-feira, mas à noite: o Alexis Sanchez passeava a pé com um amigo, tinha o número nove na camisola preta do Barcelona. O semáforo estava vermelho, o Frank Lampard não o respeitou e seguiu em frente, a espreitar o cruzamento, os carros, as motos, o perigo, mas seguiu em frente. Empurrava um carro de mão cheio de caixas de cartão amassadas. Tinha o número oito nas costas da camisola azul do Chelsea.
 Nesta quarta-feira, mas à noite, o Javier Pastore, camisola branca do PSG, numa Yamanha Mate de quadro verde ( o meu preferido) parece que já não conhece ninguém. Passa pela multidão com o olhar fixo muito longe no horizonte.
Nesta quarta-feira, mas à noite: o David Villa agora tem 1,90m, está a beber um café, veste a camisola do Barcelona 2011-12. Assomam de um beco onde existe o Café Aràb o Ozil de camisola preta, cabelo curto, e número dez e o Cristiano Ronaldo de peito para fora e cabelo à Cristiano Ronaldo com uma camisola branca com um sete dourado.

Quinta-feira, 13 de Outubro de 2011
Calção Kappa preto. Camisola da selecção de França número vinte e dois.  Sentado no suporte para as compras de uma MBK Swing Variateur, a pedais, parada num semáforo vermelho. Sem cicatriz. É o Frank Ribéry. Ao lado há uma rotunda. Ao lado da rotunda existem três camelos sentados.
No aperto de um souk mais apertado, sem luz directa, vem de frente um burro branco, o burro puxa um atrelado, o atrelado e o burro são guiados pelo Samuel Eto´o, que vem em pé em cima do atrelado, a guiar o burro com duas cordas, vestido com a camisola nove do Barcelona. O Eto´o.
Chega-se para cá o Totti, camisola dez gialorrossa, numa MBK Swing Variateur; anda por aqui um Benzema preto, que está a fumar e que tem a camisola nove, branca, do Real Madrid.
É meio-dia, o sol queima a cabeça, o Xavi atravessa a rua com balde de água na mão. Veste a camisola 6 do Barça 2010-11. Está mesmo muito calor.
Está sentado num mocho, num banco de madeira, o Fernando Torres, moreno, com bigode, com pêra, com cabelo preto, com dedos feios e chinelo no pé. Camisola nove, branca, do Liverpool.
Outro Ozil com o cabelo curto, mas com camisola branca e dez dourado nas costas. Um Buffon de manga curta, manga rosa e número um. O dezoito é outra vez o Heinze, da Argentina, está a percorrer a praça ao lado de um amigo com um chapéu vermelho. E um Simone Pepe, vinte e três da Juventus, raquítico, de 1,90m, avistado a partir daqui, do Restaurante Panoramique.
No aeroporto, um homem anónimo com a camisola do Arsenal sem nada nas costas. Acaba de chegar a Marrakech. É marroquino. Acredito que vá escolher o número vinte e nove e que vá mandar escrever o nome Chamakh.
Isto aconteceu mesmo assim. E vim embora.

AS ÁRVORES AZUIS DE VILA DO CONDE

23.4.14
Quinta-feira como quem é sexta, pelas onze e tal da noite, o relógio a roçar um feriado religioso e as ruas como se fosse dia, pessoas em cima delas, muitas pessoas. E o céu apagado. E, antes de Judas arder outra vez, um poema de Ruy Belo, sobre a paixão por uma Helena vilacondense.
Nós, jornalistas, vamos aonde o trabalho nos leva. Nessa tal quinta-feira fomos ver lume com teatro ao ar livre, reportando liberdades e fogo. E o que mais nos impressionou foram as árvores da cor da censura.
  

"O SILÊNCIO TORNOU-SE A SUA LÍNGUA MATERNA"

21.4.14
O nosso jovem adulto e as imagens. A sua compreensão. A evolução através do silêncio. Há novidades em APPELBAUMBLOG.
 

O HOMEM EXPERIMENTA A VIDA

19.4.14
"O sono quando tem de ser, é, não precisa de lugares carinhosos para fechar os olhos".
Indo por APPELBAUMBLOG


NASCEU UM LIVRO

19.4.14
Entraremos nos dois tempos da vida de um homem raro: as fotografias novas e os discos antigos.
Appelbaum prefere não falar. Tanto haverá da sua querida Lipstadt, na Alemanha. E menos havendo, será igualmente inesquecível a sua gloriosa jornada portuguesa, de Lisboa ao Porto, num carro tímido.

Um homem e as suas máquinas de amar sem som. Estamos perante essa história. Pouco barulho.

PS: Porque as editoras lêem devagar e porque alguns meses de silêncio voaram sobre a conclusão de "FUMADORES", este vosso amigo avança com os dedos todos e escreve "APPELBAUM", o livro que a partir de hoje acorda uma vez por dia neste endereço: APPLEBAUMBLOG.
É todo vosso, divirtam-se.






CRÓNICAS DA RUA DO MAR (2)

16.4.14

Máquina com a língua de fora no deserto. Deserto nem tanto pela areia, mais pelas pessoas que não estiveram esta manhã praia da Aguda, lugar onde o mundo acaba. O Zé e o Manel passaram por nós em passo bem disposto, são fotojornalistas, talvez nos encontremos esta noite em Vila do Conde. Enquanto eles continuaram para norte, nós fizemos o contrário e encontramos a areia no bloco operatório, com a máquina que a vai operar pronta para o serviço. No fim da Rua do Mar o areal engorda durante o inverno. Coisa que lhe acontece todos os anos desde que o molhe foi construído. Não pode chegar assim à praia.Vai emagrecer umas toneladas antes do verão. Pessoas farão o mesmo ao corpo, outras não, quando o calor der à costa.

BOB DYLAN EM ARCOZELO

15.4.14
Ali em baixo no mar de letras, uma frase, onda maior, salta do texto, cavalga o artigo. "A felicidade nunca esteve entre as minhas prioridades". Autor da onda: Bob Dylan. O homem que, diz a edição espanhola da revista Esquire (comprada em Vila nova de Gaia), não quis ser Bob Dylan. Mas é.
Bob Dylan está em Arcozelo, julgo que em cima da mesa da sala, com o rosto por cima de um título, este, "Raro, Raro". Bob Dylan não está, como deveria estar, a rodar num gira-discos, porque a casa não tem gira-discos, mas vai tocar esta noite em Arcozelo. Nem que seja num num reprodutor de música tipo livro de bolso. Blood on the Tracks de norte a sul.


ALI PARA OS LADOS DO CÉU, EM BRAGA

14.4.14
O preço das sandes de panados já foi mais amigo do bolso. Cada uma agora custa 2,5 €, no apogeu do campo da bola, freguesia de Dume. Lá no cimo do Monte Castro, comemos e calamos, porque, ao fim e ao cabo, os dois verbos vão bem um com o outro. O copo de cerveja vale o mesmo euros da época anterior. A julgar pelas redondezas, onde mais se bebe do que se come, a multidão, enquanto se embebeda, poupa. Estômagos proeminentes fazem bossa nas camisolas de futebol, umas vermelhas, outras azuis e brancas. O cortejo há-de acabar sentado nas bancadas, pronto a comer futebol com os olhos.
Foi mais ou menos isto, longe do televisor, e longe do futebol, nas costas do filme do jogo.

FUTEBOL DE RUA (12)

12.4.14
Porta da rua 31 de Janeiro, em Aveiro, tem número de banco. De banco de suplente, de homem sentado. Da primeira posição fora de campo, do primeiro número fora do onze. Doze.
Doze, a melhor profissão mundo.
E 12, na porta, mesmo ao lado da Adega do Evaristo, lugar tão bom de comer como de sentar amigos à mesa e fazer o tempo esquecer das horas. As horas, essas putas, que vão com qualquer um para qualquer lado e dormem onde calha.
É também no que dá, ir com amigos a sítios e ver coisas. Ver futebol na calçada portuguesa e depois chamar nomes ao tempo. O tempo, esse corredor de fundo, que quando se põe a contar muda de sexo.  É vinte e quatro fêmeas por dia.

HISTÓRIAS DE OUVIR COM OS OLHOS

10.4.14
Os livros.
Bem entusiasmado com Aliocha, muito curioso com o destino de Fiódor e com a sua intensa forma de ser. E o resto dos filhos, Mítia e Ivan, também me cativam até à medula.  E é pois com olhos que vou comendo a carne que Dostoievski escreveu faz tanto tanto tempo que o livro, se ele fosse gente, provavelmente já nem dele esqueleto havia.
O meu volume único d'Os Irmãos Karamazov trata de ser um livro muito físico, puxa pelos membros, pesa nos braços, mas fora isso é muito bom de ler, muito bom de ler. Estou na Rússia vai para quinze dias. E estou no século XIX. 

O MARCO

8.4.14
Já não via o Marco há doze anos e não o reconheci de imediato. Mas havia ali qualquer coisa de familiar, entre a barba, que ele não tinha, e o boné, que ele não costumava usar. Encontrei-o na rua Alfredo Allen, mesmo à porta do edifício do Parque da Ciência e da Tecnologia da Universidade do Porto. E então, o que era feito dele? Depressa fiquei a saber que o Marco tinha sumido do jornalismo de rua e entrado nos bastidores da televisão pública. Entretanto saiu de lá. Dá aulas. É realizador. Fez este vídeo com os Expensive Soul.

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