o discurso da bola enquanto mulher objecto

19.11.14


Voltei a ser enganada esta noite. Muito me agradou o convite para um ménage à trois com o Messi e o Ronaldo, mas quando cheguei ao lugar marcado vi logo que não era bem assim.
Messi é um argentino  mudo, só fala comigo. O que ele me enrola. E eu vou na cantiga dele até que me apercebo que ele só me está a usar para chegar ao golo e dizer a todos que é muito bom de bola. Como ele vem sempre em pezinhos de  lã eu caio na cantiga e vou com ele até ao fim do mundo, ao fundo da baliza. O Ronaldo é um português que me bate com mais força, mas que bate tão bem, que quanto mais ele me bate, mais eu acho que ele mais gosta de mim.
Como podia eu, bola perdida de amores pelo carinho de um e pelo suor do outro, negar o convite dos dois para uma noite romântica, e a três, em Manchester. Não podia. Por isso, fui.

Correu mal. Muito mal. Logo no início, correu mal. Os bandidos não só não vieram sozinhos como cada um trouxe um autocarro cheio de amigos, nem quero imaginar a minha cara no parque de estacionamento de Old Trafford, devo ter ficado com cara de bola ao poste no último minuto da final Liga dos Campeões com o jogo empatado a zero. Pois fiquei. Mas calei-me, não disse nada, cumpri o meu papel de oxigénio do jogo, subi ao relvado, entreguei-me aos dois ao mesmo tempo.
E os dois nada, nada, não me fizeram nada, não conseguiram. Dizia o Messi: isto nunca me tinha acontecido. Dizia o Ronaldo: a mim também não. Para piorar a coisa, os dois decidiram ir embora a meio do encontro, fingindo que tinham ido à casa de banho. Nunca mais apareceram. Deixaram-me em campo com uns rapazes que não sabem muito bem o que fazer comigo.
Também não é bem assim. O Quaresma sabe, quando quer sabe. E eu, só de imaginar o Paulo Bento, o Scolari e o Queiroz cheios de ciúmes, deixei o Quaresma fazer gato sapato de mim. Como a noite estava perdida e estava ainda tirei a virgindade a um miúdo que veio de França só para ver a bola.

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