Frankfurt, ida

24.10.17
Uma das grandes vantagens dos aeroportos internacionais é a possibilidade de encontrar pessoas, e uma das grandes vantagens de encontrar pessoas no mundo desconhecido é a possibilidade de encontrar pessoas portuguesas, como em Frankfurt, numa paragem de seis horas entre aviões.


Travei a leitura de um parágrafo de um extenso livro com a ponta do dedo indicador direito para deixar passar o comboio de informações atrelado à voz da funcionária do aeroporto, difundida através de um esclarecedor sistema de áudio, sobre voos e tabelas horárias. Quando me vi a embarcar de novo na ficção, levantando o dedo, o serviço informativo atropelou o livro para nos dizer que uma carteira fora encontrada algures e pediu ao passageiro pelo nome que a fosse recuperar. Do nome, adquiri conhecimento suficiente para saber que não era o meu, sem ter percebido por quem chamava o aviso. Em linha de vista, e em plano americano, apareceu um rapaz vestido de preto com o nome Dagobert escrito na camisola. Também não era ele.

Procurarei escandir da melhor forma o passo seguinte: pela segunda vez entre as seis horas de espera, o tempo acabou por me conduzir, pelo meu próprio pé,  à casa de banho do homens e pela segunda vez uma mulher dentro de um uniforme verde limpava o chão como se nada fosse, circundada por urinóis pejados de utilizadores em trânsito fisiológico. E assim se acrescentou mais um capítulo ao conceito de normalidade.



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